sábado, 14 de maio de 2011

Um artista completo: da poesia às grandes mídias

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Uma francesa abre a porta do apartamento no Leblon e pede que espere o marido que está no banho. Com brilhos nos olhos a ex-diretora da Elite Models de Nova York, a bonita loura Nathalie Bernier, conta que conheceu o ator, cantor, compositor, poeta e ex-participante do reality show da TV Record, A Fazenda, Igor Cotrim na festa da atriz e apresentadora Babi Xavier, rapidamente engataram um namoro e três dias depois já estavam morando juntos. Como diz Igor, rei dos trocadilhos, a francesa entrou na sua vida à francesa.

O paulista Igor, que veio para o Rio de Janeiro por causa da TV Globo, entra na sala com sua camisa com o número 22 remetendo à loucura, cabelos molhados e largo sorriso, recolhe o lixo, pega um cigarro, sem superstição mexe com sua gata preta e está pronto para a entrevista.

O ator, que interpretou de 1999 a 2003 o personagem badboy Boca de Lixeira no seriado juvenil Sandy e Junior, cresceu e hoje é um ator premiado no cinema. Ganhou prêmios de melhor ator no Festival de Cinema de Natal, Amazonas Film Festival e Fortaleza Especial do Júri IV For Rainbow pelo seu primeiro filme Elvis e Madona, de Marcelo Lafitte, em que interpreta um travesti que se apaixona por uma lésbica (personagem de Simone Spoladore). “Nada fica no lugar do ao vivo, mas o cinema eterniza”, diz o ator formado pela escola de arte dramática da USP.

No momento Cotrim se prepara para viver o cartunista Ota no documentário-ficção Ota the movie, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, diretores do premiado documentário Dzi Croquettes, e fazer o filme O Ermitão, de Jovany Sales Rey. As duas produções têm previsão de começar a serem gravadas em junho. Igor soube que Ota ia lançar um livro, Relatório Ota do Sexo, escreveu uma poesia para ele e acabou levando o papel. O mesmo aconteceu com Elvis e Madona, em que Igor escreveu um poema sobre travestis. Aliás, a música Reflexo, do filme Elvis e Madona, é de sua autoria.

Depois de gravar o filme, Igor se rendeu a proposta de participar da Fazenda 2. Ele, que se define como “Igorcêntrico”, diz, sem demagogia, que sim, a mídia é importante: “O artista precisa de alma, público. Mas temos que saber usar a mídia a favor disso.” O ator teve uma participação marcada por polêmicas, como quando reclamou do desperdício de comida no Ano Novo, chegando a chorar e dizer que não deveria estar lá, e as brigas quase diárias com o modelo Caco Ricci, sua maior desavença. Igor diz que quando saiu caiu o ibope e que pessoas da produção torciam por ele: “Meu aval da Fazenda foi da produção, eles sabiam de tudo o que está acontecendo. Quando saí a produção e o Brito Jr vieram falar comigo e elogiaram minha participação”, conta satisfeito. Ele entrou no reality para divulgar o filme Elvis e Madona, o livro de poesias Ali como lá e o grupo de rock com críticas sociais em tom de humor, Beep-Polares.

- Um dia o Igor precisou ir morar no meu apartamento por uns tempos, lá criamos um programa para TV que se chamava Beep-polares, onde poderíamos escoar nossa arte. Um dos blocos seria de música e começamos a compor juntos, mas fizemos tantas letras em tão pouco tempo que resolvemos montar a banda antes do programa e assim foi até hoje, conta Pedro Poeta, parceiro de banda de Igor.

A equipe acompanhou o show do grupo no Corujão da Poesia e viu um Igor ator-cantor, que faz graça no palco e provoca a plateia. Quando sai do palco dá um abraço apertado em quase todos os presentes e toma uma cerveja.

O vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, é um grande amigo e admirador de Igor. Eles se conheceram há quatro anos no Corujão da Poesia, como o nome já aponta um sarau que acontece de madrugada, e logo depois formaram o grupo Voluntários da Pátria, em que tentam chamar a atenção da sociedade para a corrupção e violência no Brasil através de palestras e manifestações.

- Para mim, Igor é um dos poucos artistas completos nesse mar de pessoas conectadas muito mais com a fama que o trabalho pode gerar do que com a qualidade e a preocupação com a arte. Igor é reativo e ansioso, por isso talvez tenha encontrado nele uma mente genial, perturbada, porém extremamente talentosa, e apresenta um bom coração. Igor sempre me pareceu um ser humano de bom coração, elogia Tico.

Quem vê Igor não imagina que ele quase se enveredou por outro lado, chegou a cursar Escola Técnica Federal e pensou em ser engenheiro mecânico, por causa de negócios da família, mas no terceiro ano começou a fazer aulas de teatro gratuitas e largou tudo. Sua irmã gêmea Caroline sempre soube que tinha talento:

- Quando criança estudávamos criando músicas e rimas. O Igor gosta desde pequeno do ator Jack Nicholson e tinha uma pasta com recortes de todos os filmes dele. A gente brincava que ele sabia até o nome do mordomo do Jack, conta a especialista em quirópteros.

O pai, que é militar, não gostava da ideia de que seguisse carreira artística. “Uma vez achei uma foto do meu pai fantasiado e descobri que ele queria ser ator, então depois disso ele nunca mais abriu a boca”, ri Igor.
 

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