quarta-feira, 7 de julho de 2010

Todo o Amor que Houver Nessa Vida

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Há coisa de uns 4 meses, mergulhei num mundo diferente. Para fazer uma matéria para a faculdade, começei a pesquisar sobre a vida de Cazuza e me apaixonei. Vi filmes, videos, ouvi todas as músicas possiveis, li livros, li artigos. Com músicas maravilhosas e com uma enorme coragem, Cazuza morreu, sim, mas continua vivo na lembrança de todos nós. A matéria que segue é de minha autoria. É a junção de duas matérias que fiz para as disciplinas de Radiojornalismo e Técnicas de Reportagem do meu curso de Jornalismo.



TODO O AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA

Vida louca, Vida Breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve


No inicio dos anos 80, um típico morador da zona sul carioca, surgia para revolucionar o rock brasileiro. Hoje completam 20 anos da morte daquele que ficou conhecido como “o poeta de sua geração”. Com nome antigo e apelido de menino, Agenor de Miranda Araujo Neto, o Cazuza, teve uma vida breve, mas intensa.

Seus pais, o produtor musical e fundador da Som Livre, João Araújo e a cantora Lucinha Araújo, sempre deram o melhor ao filho único. Já adulto, Cazuza tornou-se um assíduo frequentador do baixo Leblon. Com fama de boêmio e sem papas na língua, o cantor estava sempre na mídia. O temperamento forte é destacado pela mãe, Lucinha Araujo, com quem Cazuza brigava, mas ligo fazia as pazes.


- Nossa relação pegava fogo, éramos do signo de fogo, né? Principalmente naquela época de adolescente, entrando na adolescência. Mas a gente brigava e 10 minutos depois fazíamos as pazes e estava tudo bem. Nós nos amávamos muito. Eu acho isso saudável numa relação de mãe e filho.

A carreira de Cazuza começou no Barão Vermelho, ao lado de Roberto Frejat. Com a chegada de Cazuza, o grupo que só tocava covers, começou a compor e a preparar o próprio repertório. A voz de Cazuza era berrada, o que se encaixava a proposta rock dos Barões.

As semelhanças entre Cazuza e Frejat eram inúmeras e a afinidade apareceu instantaneamente. Mais que colegas de grupo, eles tornaram-se parceiros na vida. Essa parceria duraria até os últimos dias de Cazuza. Juntos, os dois compuseram músicas como Todo o Amor que Houver Nessa Vida, Maior Abandonado e Pro Dia Nascer Feliz.

Com o sucesso, e consequentemente, as responsabilidades aumentaram e infelizmente o temperamento inquieto de Cazuza não se enquadrava a uma agenda cada vez mais cheia. Assim, os desentendimentos entre cantor e os demais Barões foram crescendo.

Depois de uma bem sucedida apresentação no festival Rock in Rio e com o repertório pronto para o próximo disco, Cazuza decidiu deixar o grupo e seguir carreira solo.
O título de poeta não é à toa. Ele cantava que os heróis dele morreram de overdose, dizia que mentiras sinceras interessavam, gostava de raspas e restos e buscava uma ideologia para viver.

Exagerado é para Lucinha Araujo, a música que melhor retrata o filho.


E por você eu largo tudo
Carreira, dinheiro, canudo
Até as coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais


“Eu vi a Cara da morte”

Na mesma época do rompimento do Barão, o cantor foi internado no Hospital São Lucas com uma febre de 42 graus, naquela que seria a primeira manifestação do HIV em seu organismo. Mas o teste deu negativo.

A saúde de Cazuza voltaria a oscilar um pouco antes da estréia do show Só se for a Dois. E após um novo teste veio a descoberta que mudaria a vida do cantor: Cazuza era soro-positivo.

- A AIDS é uma doença que atinge não só a família, ela atinge também os vizinhos, as pessoas que te conhecem, os familiares mais distantes, explica Lucinha.

Levado pelos pais para uma clínica em Boston, nos Estados Unidos, Cazuza passou dois meses em tratamento, naquele ano de 87. Ele voltou da viagem ao exterior, magro, abatido pela doença e passou a usar lenços para disfarçar a queda de cabelo.

Já no final de sua vida, Cazuza enfrentava dificuldades para andar e convivia com um cateter, usado para ajudá-lo a receber os remédios diretamente na veia. Sua voz era fraca; os olhos, fundos e chegou a pesar 38kg. Mesmo assim, teve forças para realizar um sonho antigo: ser capa de revista. A proposta foi da Veja: ou páginas amarelas, ou capa. Cazuza escolheu a capa. O resultado da entrevista, porém, não foi o esperado. Uma editorialização no final da matéria, colocava em dúvida o potencial do cantor e sentenciava a sua morte. Como reflexo da leitura da matéria, Cazuza teve uma nova crise, sua pressão baixou beirando a zero e seus pais temeram por sua vida.

Na busca por tratamento, após ter o visto negado diante da confirmação da doença, Cazuza passou por métodos alternativos em São Paulo. Apesar de uma melhora diante desse novo tratamento experimental, não havia muito a ser feito. Cazuza ainda iria mais uma vez a Boston, depois de uma grave crise e de um apelo da família ao consulado americano.

Cazuza pegou o “trem para as estrelas” em 7 de julho de 1990, aos 32 anos, deixando muita saudade e um legado para os fãs. Em 8 anos de carreira, deixou 126 músicas gravadas, 60 inéditas e 34 na voz de outros cantores. Seu último registro musical foi o disco duplo Burguesia. Para Lucinha, a imagem que ficou do filho foi a de uma pessoa que sempre fez o que quis.

- Ele sempre dizia: prefiro viver 10 anos a 1000 que 1000 anos a 10, e ele conseguiu fazer isso. Pagou um preço muito alto, mas eu acho que talvez tenha valido a pena. Porque ele viveu só 32 anos, eu vivo a 73 e não fiz nem 1% do que ele fez.
Cazuza está enterrado no cemitério São João Batista, ao lado de grandes nomes da música brasileira como Carmen Miranda, Ary Barroso, Francisco Alves e Clara Nunes.


“E algum remédio que me dê alegria”

Outro legado do cantor é a Instituição que leva o seu nome. No mesmo ano da morte de Cazuza, em 1990, Lucinha fundou o Viva Cazuza, obra destinada a cuidar de crianças carentes soro-positivas.

Tudo começou após um show beneficente em homenagem ao cantor com fundos revestidos para o Hospital Gaffré e Guinle, na Tijuca. Atendendo aos pedidos dos diretores da unidade, Lucinha começou a trabalhar lá.

Diante da burocracia, Lucinha deixou o local dois anos depois e transferiu a Sociedade para a Rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras, onde funciona até hoje. A Instituição sobrevive, basicamente, dos direitos autorais de Cazuza, o restante é adquirido através de doações, leilões, shows e eventos.

Hoje, a sociedade abriga 20 crianças com idades entre 3 e 18 anos, em regime de internato e conta com o apoio de médicos e educadores.

- Eu acho que eu fiz a coisa certa. Em vez de ir para um analista, resolvi abrir a Sociedade Viva Cazuza porque ao mesmo tempo em que eu me completo com a felicidade das crianças, e criança é sempre muito feliz mesmo com essa doença, eu sou boa pra eles. Então, aqui é uma troca, explica.

Paralelamente, a Instituição também atende adultos, oferecendo cestas básicas e acompanhamento ambulatorial.

Na Sociedade, funciona um pequeno acervo com objetos pessoais de Cazuza como escovas de cabelo, bandanas, óculos escuros e a escrivaninha que o cantor tinha em seu quarto.

Quem quiser ajudar a Sociedade, basta entrar no site www.vivacazuza.org.br


Morre Ezequiel Neves

Ezequiel Neves, o Zeca, morreu nessa quarta feira, 7 de julho, na Clínica São Vicente, na Gávea, o mesmo dia em que Cazuza. Zeca era produtor musical e jornalista. Ele ajudou Cazuza em sua carreira musical e tornaram-se grandes amigos.
Aos 72 anos, Zeca estava internado na clínica desde o dia 22 de janeiro para um tratamento de um tumor benigno no cérebro. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.
 

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