terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Crack: uma droga de todas as classes

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O crack começou a ser vendido nos morros cariocas no ano passado, e, por ter um efeito poderoso, vem substituindo a cocaína nas vendas do tráfico. Em julho deste ano, a prefeitura do Rio de Janeiro inaugurou uma praça em Copacabana onde antes existia uma cracolândia. Além disso, houve a criação de Centros de Atenção Psicossocial, que ajudam dependentes do crack. De acordo com o secretário municipal de assistência social, Fernando Willian, o crack é uma ameaça, e deve haver uma integração entre as secretarias para combatê-lo. “O crack evoluiu de uma forma muito pesada, envolvendo um número cada vez maior de pessoas, especialmente crianças e adolescentes. O jeito é ter uma ação integrada de assistência social. Nós estamos fazendo a nossa parte e a secretaria de saúde também, ampliando unidades de atendimento.”
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas, NEPAD, que fica na UERJ, precisou mudar a forma de tratamento dos dependentes por causa do crack, como explica a psiquiatra e diretora do Núcleo, Maria Thereza de Aquino. “O usuário de crack nos colocou em uma espécie de UTI emocional, não dá tempo de lidar como lidamos com usuários de cocaína de maconha. Nós entendemos (o NEPAD) que nunca mais vamos ver aquela pessoa se não a amarrarmos bem. Não dá para trabalhar com a tranquilidade e a proposta da psicanálise.”
Em cada dez pacientes novos no NEPAD, três são viciados em crack. O usuário geralmente é homem, de classe média e com idade entre 8 e 35 anos. “As crianças que usam crack geralmente têm os pais separados. As crianças usam o crack como fuga, como escapismo.”, é o que afirma a psiquiatra.
Maria Thereza de Aquino diz que essa droga destrói qualquer possibilidade de integração social. “O crack é um desestruturador da vida social. Onde ele entra é como um desmatamento social. A pessoa começa a roubar e a falsificar assinaturas. Tudo pelo crack.” As crianças, que são bastante atingidas pelo poder das drogas, renunciam a família em nome dos tóxicos, é o que afirma Maria Thereza. “Uma criança de 8 anos que os pais dizem ‘se você fizer isso, não entra mais em casa’ uma criança não usuária de drogas diria que não fará mais, a criança usuária diz que não tem importância e não volta mais pra casa.”, diz. Uma boa saída, segunda a psiquiatra é o diálogo desde cedo entre pais e filhos.
O crack é uma droga de uso recreativo, é composto por pasta de cocaína misturada com bicarbonato de sódio. É sólida, em forma de cristal, e pode ser fumada. A droga chega ao sistema nervoso central em dez segundos. A forma de uso do crack favoreceu a sua disseminação, já que não necessita de seringa, só basta um cachimbo, que na maioria das vezes é improvisado, com lata de alumínio furada, por exemplo.O crack eleva a temperatura corporal, podendo levar o usuário a um Acidente Vascular Cerebral. A droga também causa destruição de neurônios e provoca a degeneração dos músculos do corpo do dependente, o que prejudica a aparência. O usuário fica com os ossos da face salientes, braços e pernas finos e costelas aparentes. O crack inibe a fome, então os usuários só se alimentam quando não estão sob efeito narcótico. Outro efeito da droga é a insônia. Este excesso de horas sem dormir pode deixar o viciado facilmente doente. Maria Thereza ressalta mais danos que o crack causa, mas não são lembrados. “O crack provoca muitas alterações no corpo, devasta o pulmão. Em 3 meses o usuário começa a tossir e a expelir um muco negro.”
O usuário de crack torna-se completamente dependente da droga em pouco tempo. Normalmente, o viciado, após algum tempo de uso da droga, continua a consumi-la apenas para fugir aos desconfortos da síndrome de abstinência, como depressão, ansiedade e agressividade.
Após o uso, a pessoa passa a se tornar extremamente violenta. A agressividade se manifesta a princípio contra a própria família, desestruturando-a, e depois volta-se contra a sociedade. As chances de cura são muito baixas, pois exigem a submissão voluntária ao tratamento por parte do dependente, o que é difícil, porque a vontade de voltar a usar a droga, é muito grande. Além disso, a maioria das famílias de usuários não têm condições financeiras de pagar tratamentos em clínicas particulares, então esperam o tratamento público de saúde ou conseguir vagas em clínicas terapêuticas assistenciais (como é o caso do NEPAD). É comum que o usuário comece o tratamento, mas abandone.
L.A., homem de 21 anos, usuário de crack desde os 18, já foi a consultas psiquiátricas, mas desistiu do tratamento. L.A. não tem apoio familiar para se livrar da droga “Há 9 meses sofri um acidente e depois que voltei do coma, em vez de me tratar comecei a me destruir, usando cada vez mais droga.” L.A. conta que às vezes falta o trabalho por causa do vício e isso prejudica o seu salário, já que recebe por dia. O rapaz tenta parar de fumar sozinho “O uso é muito bom, mas não vale a pena. Eu vou tentar parar de usar e vou conseguir.”
Embora seja tão potente quanto à cocaína, a maior causa de morte entre os usuários são as dívidas com os traficantes. Essa é a droga que mais traz prejuízo a eles, pois além de mais barata, os compradores são dividendos.
A dependência do crack frequentemente leva o usuário à prática de delitos para obter a droga. Os pequenos furtos de dinheiro e de objetos muitas vezes começam em casa. Se for mulher, pode se prostituir para sustentar o vício. O dependente dificilmente consegue manter uma rotina de trabalho ou de estudos e passa a viver basicamente em busca da droga, não medindo esforços para consegui-la. É bom ressaltar que embora seja uma droga mais barata que a cocaína, o uso do crack acaba sendo mais extenso. O efeito da pedra de crack é mais intenso, mas passa mais depressa, o que leva ao uso compulsivo de várias pedras por dia. O mais importante no combate ao crack é não haver o primeiro contato com a droga. O Governo precisa investir em prevenção e conscientização.
 

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